sexta-feira, 6 de abril de 2018

Só os gregos terem sido apanhados de supresa!...




«Cratera Fumegante Onde Outrora, Em Tempos Inocentes, a Autoestima Existia, Respirava e Fazia Planos (Coates, por Rogério Casanova) (LINK)


RUI PATRÍCIO

Antoine Griezmann, cidadão de um país que perdeu a final de um Europeu na sua própria casa voltou hoje a encontrar Rui Patrício, atleta de um clube que perdeu uma final da Liga Europa no seu próprio estádio. O duelo tinha tudo para ser interessante, mas acabou por não haver muitas ocasiões para se cruzarem: Griezmann, com aspecto de quem foi o modelo para uma escultura ornamental num chafariz de Bruxelas, lá conseguiu marcar um golo a Patrício, que foi o modelo para uma estátua em Leiria. (Tentou marcar outro, mas foi à figura). E assim terminou o aguardado reencontro competitivo entre Griezmann, à volta do qual alguns amigos de Rui Patrício têm por hábito fazer festas, e Rui Patrício, à volta do qual outros amigos de Rui Patrício têm por hábito dar barraca.

PICCINI 

Na sua última deslocação a Madrid, há pouco mais de um ano e ao serviço do Bétis, foi expulso a 12 minutos do fim, após ver o segundo amarelo. Hoje só viu um, depois de uma cacetada em Diego Costa, e a cacetada não podia ter acontecido a melhor pessoa. Foi apenas uma prova do discernimento que evidenciou em cada uma das suas acções, numa noite em que foi a pessoa mais esclarecida da equipa, nas duas metades do campo.

COATES

Substituído prematuramente aos 20 segundos, deixando no seu lugar a cratera fumegante onde outrora, em tempos mais inocentes, a auto-estima de Sebastián Coates existia e respirava e fazia planos para o fim-de-semana.

Entrou aos 21 segundos. Não fez... não fez um bom jogo.

MATHIEU

A dupla de centrais que formou com Cratera Fumegante tinha uma tarefa complicada pela frente: um duelo de noventa minutos com uma dupla de avançados que incluía Douglas Costa. Pode dizer-se que superaram a primeira prova em qualquer confronto com Diego Costa, na medida em que não levaram um pontapé no peito, uma joelhada nos testículos ou uma cotovelada nas trombas. Nas provas subsequentes - não entregar bolas ao adversário, não falhar cortes fáceis, não perder na antecipação, etc - estiveram ambos um pouco aquém do desejado.

COENTRÃO

A época tem-lhe corrido bem em termos de sorteios e calendário, providenciando-lhes várias oportunidades de passear por territórios amigos (Barcelona, Luz, Porto, Braga, estádio do Atlético Madrid) e dessa forma enriquecer o seu considerável espólio de isqueiros. Hoje, contra todas as expectativas, não recebeu brindes da bancada, apesar do esforço que dedicou à actividade que melhor pratica depois de jogar futebol: irritar as pessoas que estão a ver futebol. Deu o tudo por tudo quando improvisou uma vasectomia a Griezmann na segunda parte, mas os adeptos da casa não se irritaram o suficiente e a única coisa que conseguiu foi ver o amarelo que o afasta do jogo seguinte. Quando hoje fumar o último cigarrinho do dia, vai ter de usar fósforos.

WILLIAM CARVALHO

A única pessoa a não perceber que a equipa tinha sofrido um golo madrugador, tentou meter a casa em ordem nos minutos iniciais, da única maneira possível: segurando a bola sozinho, queimando linhas em rodopios, submetendo adversários a sequências de cabritos, e tentando tabelar consigo próprio. Saiu lesionado antes do intervalo, levando com ele grande parte do que ainda podia correr bem.

BATTAGLIA

Jogo bastante razoável, sob qualquer perspectiva analítica que encare o futebol como uma arte rupestre. Se querem outras coisas não chamem Battaglia, que não está minimamente interessado em agradar a uma cambada de bailarinas e comunistas.

GELSON MARTINS

Começou cedo a procurar, e bem, zonas interiores. Ao minuto 14, conseguiu receber de costas para a baliza, rodar, e descobrir Battaglia semi-isolado na área. Pelas alas saiu-lhe bem o primeiro sprint, quando ultrapassou Lucas e conseguiu cruzar para Dost. A partir daí, cada tentativa foi encontrando atritos e fricções adicionais (o Atlético de Madrid, a passagem do tempo, os limites do corpo humano, etc.) como um protótipo cujas propriedades aerodinâmicas são repetidamente testadas neste túnel de vento a que chamamos Sporting 2017/18. Teve uma das melhores oportunidades do jogo, mas não concretizou, expondo assim as suas reconhecidas debilidades na finalização. Afinal, só tem doze golos esta época. Numa equipa que pratica um futebol tão sufocante, tão apelativamente ofensivo, é de facto uma quantia muito escassa para alguém a quem é pedido que seja extremo, segundo avançado, ponta-de-lança, trinco e lateral, por vezes na mesma jogada.

BRUNO FERNANDES

De quem normalmente se espera fluidez e a capacidade para fazer o jogo deslizar como se numa superfície plana, hoje viram-se demasiadas protuberâncias e convexidades. Pouco acerto no passe, o que perto do ataque se traduziu em bolas perdidas, mas perto da sua própria área, pelo menos numa ocasião, em algo mais perigoso. Só ao minuto 81 conseguiu artilhar a primeira bomba, mostrando que hoje também não seria dali. Parece cansado. Estamos todos, suponho; mas nele custa mais ver.

BRYAN RUIZ

Sacou um amarelo a Saul com um bom slalom pelo meio, foi uma das pessoas que revelou mais critério no passe, e nunca mostrou medo de ter a bola no pé. Aliás, por duas ou três vezes tinha dado imenso jeito algum medo de ter a bola no pé, mas Bryan Ruiz nunca o mostrou. E lá andou em campo, sem medo de ter a bola no pé, até aos últimos minutos, quando conseguiu fazer o remate mais perigoso da equipa em toda a segunda parte. O facto de estar a conseguir ser, com alguma regularidade e jogo após jogo, dos jogadores menos maus, mais do que uma boa notícia sobre Bryan Ruiz, parece-me uma má notícia sobre os colegas de Bryan Ruiz.

BAS DOST 

Ah, Bas Dost, o anjo exterminador, brandindo um gládio em chamas: o seu olho lúcido expõe todos os vícios secretos: dele, dos colegas, de quem os treina, de quem os vê. É como se toda a manobra colectiva se apresentasse perante um tribunal revolucionário: "tu, o que fazes aqui?", "tu, estás a tentar passar a bola a quem?, "tu, onde é que estavas no minuto 72?", "tu, o que é que achas desta porra toda?". Não há boas respostas a qualquer uma destas perguntas, tal como não há boa resposta ao dilema filosófico que Dost representou ao longo de duas épocas: o que fazer, e como jogar, com alguém que parece a solução para todos os problemas em 40 jogos por época, e um problema sem solução nos restantes 10?

ACUÑA

Muitas vezes acusado de falta de criatividade e capacidade de improviso, decidiu hoje demonstrar quão injustas são as críticas. Tendo passado alguns meses a habituar-nos a cruzar à primeira oportunidade para uma grande área onde só costuma estar Bas Dost, apareceu hoje na quina da área com três colegas dentro da mesma. Cruzou? Claro que não: rematou dali, por cima da barra. Ninguém estava à espera, aposto.

RÚBEN RIBEIRO

Entrou para os últimos dez minutos e tratou logo de começar a parar bolas de peito, recuar, ameaçar o cruzamento, voltar para trás, e endossar com segurança a um colega de equipa mais recuado. Foi assim que se comportou no estádio do Atlético Madrid, nos últimos dez minutos de uma eliminatória europeia, e será assim que se vai comportar na eventualidade de uma guerra nuclear.

MONTERO

Não sabemos exactamente onde foi parar a bola depois do remate que tentou ao minuto 92, a não ser que não acertou em nenhum dos dois alvos úteis naquelas circunstâncias: o fundo das redes, ou em cheio no smartphone no Presidente.»


Imperdoável Montero não ter acertado em cheio no "smartphone" do presidente! O banco espera-o, enquanto JJ se lembrar do prejuízo. O mesmo risco poderão correr os restantes companheiros nomeados pelo presidente para as "medalhas de lata", se o homem um dia destes se lembrar de copiar o seu homólogo do Olympiakos, Evangelos Marinakis. Valha-nos ao menos o consolador facto de...

Só os gregos terem sido apanhados de supresa!...

Leoninamente,
Até à próxima

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