quinta-feira, 23 de novembro de 2017

O mundo apenas conheceu um Pilatos!...



APAF - Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol






COMUNICADO (LINK)


«Os árbitros C1, assistentes e estagiários decidiram por unanimidade entregar pedidos de dispensa que terão efeito a partir do prazo regulamentar.

A ausência dos árbitros nas competições profissionais será efectiva, nessa data, caso não se verifiquem os seguintes pressupostos:

Total ausência de insinuações, da parte de clubes e agentes desportivos, que coloquem em causa a honra e o bom nome dos árbitros; por clubes e agentes desportivos entendem-se os seus dirigentes, treinadores, jogadores e demais funcionários, os meios de comunicação próprios e aqueles que promovem nas redes sociais;
O período de 20 dias com total ausência de insinuações deve abranger todas estas pessoas e meios. Para que não restem dúvidas, entendemos por insinuações: acusar os árbitros de errarem de forma propositada; acusar árbitros de prejudicarem sempre o mesmo clube; referirem-se, directa ou indirectamente, a qualquer acto não provado de corrupção; aplicar aos árbitros, de forma directa ou indirecta, expressões como «polvo», «padre», «diácono» ou «apito dourado», entre outras infelizmente utilizadas por diversos clubes já esta época;
Durante estes 20 dias exigimos reuniões da APAF e cinco árbitros com o presidente e Direcção da Liga, com o objectivo de definir e aprovar um corpo regulamentar que reforce a punição de quem não cumpre as normas éticas e disciplinares a que estão obrigados todos os agentes, tal como sucede, por exemplo, na UEFA;
Este novo corpo regulamentar de normas éticas e disciplinares deverá ser aprovado pela Direcção da Liga durante este prazo, e submetido a Assembleia Geral da Liga até 31 de Dezembro de 2017, passando a vigorar assim que for regulamentarmente possível.

Consideramos que é equilibrada esta posição dos árbitros, tomada de forma a defender o Conselho de Arbitragem e para bem do futebol português, garantindo a igualdade de direitos entre os clubes e todos os agentes desportivos. Ao mesmo tempo, isto dá à Liga e aos clubes profissionais de futebol tempo suficiente para agir, de forma ponderada mas firme, na defesa das competições em que participam.

Os árbitros são hoje – como sempre foram – sensíveis aos apelos ao bom senso. Mas já não estão disponíveis para continuar a ser os únicos agentes do universo do futebol profissional com bom senso.

Mas ninguém pode ficar com dúvidas: se muita coisa não mudar nos próximos 20 dias, os árbitros não continuarão disponíveis para aceitar que a sua honra e bom nome continuem a ser sistematicamente postos em causa por quem tem por obrigação defender a integridade das competições profissionais. Queremos que seja promovida uma reflexão urgente para bem do futebol português, envolvendo todos os agentes desportivos e demais parceiros, como as associações de classe dos dirigentes, treinadores, jogadores e todas as que fazem parte da indústria do futebol.

As condições de serenidade, respeito e segurança, que são absolutamente essenciais para que os árbitros entrem em campo, estão em crise. Algo tem de ser feito de imediato pelo futebol!

Nesse sentido, a APAF e os árbitros resolveram criar um gabinete jurídico específico, destinado a acompanhar e analisar todas as declarações públicas nos diversos órgãos de Comunicação Social, de forma a responsabilizar civil e criminalmente toda e qualquer pessoa que coloque em causa a honra e o bom nome de qualquer agente da arbitragem.

A APAF oficiará esta quinta-feira a Direcção da Liga no sentido de marcar, de forma urgente, a primeira reunião de trabalho com vista a definir e fazer aprovar regulamentos disciplinares que punam verdadeiramente quem não respeita os agentes de arbitragem.»

Fátima, 22 de Novembro de 2017

A APAF e árbitros

Ora aqui temos mais uma honrada, legítima e nada redundante ou sequer repetida iniciativa dos competentes, dignos, íntegros, impolutos e inatacáveis árbitros profissionais dos dois escalões maiores do nosso futebol. Quem porventura ousar a mais pequena reserva sobre o espírito que enferma este comunicado da APAF e nele  vislumbrar a mais pequena réstia de corporativismo ou até, por absurdo, da génese de uma futura  "Ordem dos Árbitros" que, na actualidade, apenas a modéstia de todos os seus elementos tem liminarmente recusado, estará a lavrar no mais profundo, inadmissível e desprezível erro. 

Nenhum adepto de futebol ignorará o trabalho ciclópico que há muitos anos tem vindo a ser desenvolvido pela APAF, no sentido de serem estabelecidas rigorosas condições de acesso, níveis de pertença e qualificação interna, elaboração de códigos deontológicos, estruturação dos orgãos de gestão e formação dos seus membros, organização de procedimentos disciplinares e assunção de poderes sancionatórios, com influência sobre a integração na instituição e, principalmente, na sua acção social e prática profissional. Nesta condição nada mais natural que assistíssemos a uma gradual transformação da APAF numa instituição que apenas poderia e deveria ser a "Ordem dos Árbitros". Mas uma singular modéstia tem impedido a instituição de caminhar nesse sentido e apenas por isso, a posição que o comunicado emitido ao final da noite de ontem, poderá justificar as reservas dos adeptos do futebol mais cépticos.

Terá apenas e porventura faltado aos excelentíssimos dirigentes da APAF e aos árbitros que subscreveram o justo e legítimo comunicado emitido, colocarem a si próprios antes de todas as decisões e da sua consequente redacção, duas simples questões:

1 - Quem terá aparecido primeiro: o ovo ou a galinha?

2 - Como interpretar à luz dos acontecimentos que colocaram em ebulição a arbitragem nacional e conduziram ao actual estado das coisas, a terceira lei de Newton - "a toda a acção corresponde uma reacção da mesma intensidade e direcção, mas de sentido oposto"?

O mundo apenas conheceu um Pilatos!...

Leoninamente,
Até à próxima

2 comentários:

  1. Sobre este post não é preciso dizer muito, simplesmente MUITO BOM!!!!

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  2. Muito bom artigo ao qual nada posso acresentar mesmo se me tenha já passado pela mente a apelidação da APAF como "confraria". Só pelo texto em que repudiaram as apelidações "polvo", "padre", "diácono", "apito dourado" espero aceitem "sacerdotes" ou "sacristãos" que é muito mais meigo.
    PS: Gostaria de rever o lance em que Gelson levou um amarelo por simulação. Pelo computador pareceu-me que foi mesmo tocado. Pena que tenha sido Freitas Lobo a comentar que me disseram ser sportinguista. Sei que é português e isso não ponho em dúvida mesmo se...

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