quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Albarde-se o burro à vontade do dono!...



O JOGO SEGUE DENTRO DE MOMENTOS


«O extraordinário acordo do Benfica com a NOS abre um novo ciclo na gestão dos direitos desportivos em Portugal. O Benfica, que já inovara com a Benfica TV rompendo o velho monopólio de Joaquim Oliveira, volta a dar cartas e a ditar novas regras no mercado. Este acordo, que é ainda muito equívoco e permite várias leituras, prova - no entanto - não só a força da marca Benfica como a sagacidade negocial de Luís Filipe Vieira. Se estamos a falar de 40 milhões por época é um número astronómico para a realidade do nosso futebol. 

Há dois anos, um pouco mais, Vieira foi acusado de fazer 'bluff' quando exigiu 40 milhões de euros a Oliveira. O tempo deu-lhe razão. A questão agora é: quanto valem exatamente os jogos do Benfica e quanto valem os outros conteúdos da BTV, como as ligas europeias? Ainda assim não valerão 15 milhões de euros, mesmo que desse pacote conste a Liga Inglesa, o que não é certo.

Ao dizer no sábado que "este ano é decisivo para a sustentabilidade do Benfica", é provável que Vieira não estivesse a pensar apenas na política para o futebol e no "novo paradigma" que passa pelo lançamento de novos talentos. Com a entrada de dinheiro fresco também temos que perceber onde se vai situar desportivamente o Benfica. 

O acordo tem, para já, mais perguntas do que respostas. Desde logo porquê dez anos? É uma eternidade. Depois, os jogos do Benfica continuarão na BTV? E se sim, por quanto tempo? Passam para a SportTV? Esse dado não é um detalhe. A SportTV, a atravessar - de acordo com informações não desmentidas - uma grave crise financeira, precisaria dos jogos do Benfica, mas não é suposto que a mais importante TV de desporto deixe de estar no Meo ou na Vodafone para ficar apenas na NOS.

Também não é claro o alcance internacional do acordo. Sendo o Benfica uma marca global, onde pode chegar nas mãos de uma empresa de grande dinâmica mas apenas presente em Portugal e na África que fala português?

Este movimento, verdadeira OPA hostil, vai lançar uma corrida aos direitos. A Altice, dona da PT e um 'player' mundial emergente (acaba de comprar a Liga Inglesa para França) deverá contra atacar e Sporting e FC Porto poderão estar, a prazo, na mira.

De onde vem tanto dinheiro para pagar um futebol apesar de tudo pobre, com um mercado limitado e escassos patrocínios é a pergunta a que, para já, neste tempo de pouca racionalidade, ninguém quer responder.

Para o espectador será bom porque os operadores tornarão os seus serviços mais atrativos, talvez mais baratos e com inúmeras promoções, numa tentativa de captar novos subscritores e receitas. Havendo bons gestores nas várias empresas, mesmo enebriados - efeito que o futebol provoca - eles terão feito as contas.»

Mora neste cantinho de leoninidade um velho leão que, apesar dessa condição de que jamais abdicará, sempre recusará liminarmente fechar os olhos à realidade que o envolve e, em desesperada imitação de algumas aves de lugares e hábitos próximos ou remotos, revelar preferência por esconder a cabeça debaixo da areia, perante as dificuldades de uma qualquer e adversa "alteração climática" envolvente. 

Pese embora ao acordo alcançado pelo Benfica com a NOS, seja intelectualmente desonesto não reconhecer a adjectivação de extraordinário e inovador, esse facto por si só não apaga o incontornável sentimento de quão prenhe de equívocos e de múltiplas leituras ainda poderá ser objecto. Obviamente que o meu objectivo se afastará sempre do exame, mais ou menos minucioso, desses equívocos ou leituras. Esse será sempre e em absoluto, problema das partes que o celebraram, nomeadamente do Benfica que, independentemente de toda a colossal especulação adiantada pela "central de propaganda goebbelsiana do arcanjo gabriel", saberá melhor do que ninguém que "quem o alheio veste, na praça o despe".

Para este velho mas atento leão, as preocupações vão muito para além dos incorrigíveis e narcísicos foguetes que por estes dias temos visto e ouvido estralejar nos céus do outro lado da rua. O que me preocupa será o silêncio e inacção de Pedro Proença, cuja bandeira mais alta empunhada na corrida à cadeira presidencial da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, lembro-me como se fosse hoje, terá sido a famigerada "centralização na Liga dos direitos televisivos", no sentido de alterar o "status quo" em vigor no futebol português, aproximando-o, salvaguardando as devidas distâncias, da situação actual do futebol inglês, a que se juntou ainda hoje, o futebol espanhol.

Ora Pedro Proença, não quis, ou então não foi capaz de acautelar e lançar, atempadamente e com vistas largas para o futuro, as bases desse velho sonho que poderia mudar a face do futebol português e parece ter assistido conformado - ou mancomunado?! - e em silêncio absoluto, a este atirar da "centralização" para as calendas mínimas, de... uma década!...

Porque perante a inacção - ou mancomunação?! - de Proença, o Benfica tratou de governar a sua vida. Nada que à primeira vista possa ser passível de condenação! Mas apenas à primeira vista. O tempo há-de levar o nevoeiro a que hoje assistimos...

Quanto a Pinto da Costa e Bruno de Carvalho, francamente não acredito que tenham sido apanhados de surpresa, pelo que a minha conclusão óbvia será a de que os clubes ditos pequenos, andarão a fazer de "papel de embrulho"!...

Albarde-se o burro à vontade do dono!...

Leoninamente,
Até à próxima

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